Max à direita, ao lado de um de seus mecânicos gringos |
Max, da Kona Bikes, como se não bastasse ser um grande entendedor do ciclismo, ainda se configura como excelente escritor. E, costumeiramente, utiliza seu blog para nos dar informações preciosas.
Desta vez, ele mandou um recado aos novatos do triathlon, falando sobre verdade e mentiras que se propagam no meio do tri. E aproveitou para falar um pouco de si mesmo, elencando algumas de suas peculiares características. Vamos ao texto:
"Aos Novatos, Sobre Verdades e MentirasHouve um tempo em que eu achava - santa inocência - que certas coisas precisariam ser ditas ou escritas somente uma vez para serem assimiladas. Engano triplo. Primeiro porque alguns conceitos precisam ser forjados em nossa cabeça dura, e a forja requer repetição. Segundo, porque porque o verbo dito segue desgovernado e passível de manipulação, enquanto palavras escritas podem ficar escondidas entre páginas mofadas e, mais recentemente, elos perdidos. Finalmente e mais importante, porque novatos que aprendem são sempre seguidos de novos novatos que necessitam das mesmas velhas lições.
Na época da minha santa inocência, por exemplo, eu achava que axiomas como "não compre uma bicicleta sem antes fazer bike fit", ou "antes de comprar uma bicicleta de triatlon compre uma de ciclismo", e até mesmo "120 libras é pressão suficiente para o pneu clincher ou tubular em uma prova" eram tão disseminados e tão conhecidos por todos que repetí-los seria cair em banalidade.
Porém, durante o último fim de semana, na Expo do Long Distance Caiobá, me deparei com tantos Novos Novatos precisando urgentemente das Velhas Verdades que resolvi sair do meu retiro literário para voltar a bater nas mesmas teclas banais. Se o texto que se segue fosse uma carta, pois, começaria como....
Prezado Novato,
Existem questões relevantes para o seu futuro no triatlon, especificamente no componente "ciclismo" desse esporte.
A do bike fit, por exermplo. Se por um lado a situação hoje é melhor do que a dez anos atrás, quando "adequar as medidas da bike às necessidades do atleta" era sinônimo de picaretagem, me parece absurdo que ainda hajam, por um lado, atletas que investem pesado em bicicletas e acabam comprando algo totalmente fora do seu padrão morfológico, e por outro comerciantes que ainda praticam a arte do "o melhor tamanho para o cliente é aquele que eu tenho no meu estoque". O resultado? Um atleta de 1,67cm usando uma P2 54 e se perguntando porque seu pedal rende tão pouco e dói tanto. Eu fico olhando para casos como esse e me pergunto se o problema é com os orientadores, que são poucos e falam e escrevem menos ainda, ou com os novatos, que são muitos, ouvem pouco e lêem menos ainda. Talvez seja com os dois, talvez com nenhum dos dois. Talvez seja comigo mesmo. Ou talvez com um pequeno sistema que se beneficia da ignorância alheia.
E o que dizer do maior serial mistake da história do triatlon - e um que pelo jeito não vai ter fim: atletas que tem como primeiro e único equipamento a bicicleta de triatlon. Gente, por exemplo, que começou a pedalar seis meses atrás e hoje pedala com uma bicicleta cujo sobrenome é "Tri" ou "TT", desenhada para economizar segundos de quem já pedala a tanto tempo, e com tanta intensidade, que não tem mais como pedalar melhor. Esses novatos eu considero vítimas de um sistema que fala em "a bicicleta mais rápida" ao invés de "a bicicleta que favorece quem é muito rápido". Quem começa no triatlon ou qualquer outro esporte não deveria estar preocupado em ser mais rápido, e sim em nadar, pedalar e correr direito. Com técnica, com segurança e com eficiência. Ignorar isso é receita para ser eternamente menos lento e não mais rápido. No que diz respeito ao ciclismo, "pedalar bem" vai acontecer de maneira muito mais segura e eficiente com uma bicicleta tradicional, cujo sobrenome é "road" ou "de estrada"- sem clip, com pouco ou nenhum hi tech e, por incrível que pareça, despida de bling bling. E isso não impede que em paralelo seja adquirida "a outra" - para provas, treinos específicos, fotos e desfiles. Só não vale (ou não é producente) confundir "bicicleta ideal para aprender a pedalar" com "bicicleta para quem já sabe pedalar". E no meu conceito, Tri Bikes são bicicletas para quem já sabe pedalar.
E aí, logicamente, na hora de calibrar sua única bike (tri, é claro) o neófito já vai pedindo:
- Pode por 170 aeee....".
- 120 chega - responde o mecânico,;
- Mas no pneu tá escrito 170....
- Essa é a calibragem máxima.....mas se você usá-la no nosso asfalto, especialmente em provas longas, terá problemas com vibração excessiva e desconforto muscular....
- Então ninguém usa 170?
- Ciclistas de pista, que pedalam em superfície lisinha de madeira.....
- Ok, põe 120.... - sentencia ele com ar desconfiado e que não esconde a intenção de colocar mais 50 libras por conta própria no hotel mais tarde.
Essa lista pode ir longe, mas creio que a ilustração já ficou clara. Periodicamente, com o perdão dos mais antigos, as (minhas) velhas verdades serão repetidas aqui, ainda que só para combater a teimosia do vento em levá-las para longe dos ouvidos que se beneficiariam em ouví-las, e a facilidade com que os elos importantes que as revelam acabam perdendo-se no universo virtual.
Isso sobre as verdades. Mas e as mentiras?
Essas são sempre as mesmas, ditas pela mesma pessoa e com a mesma convicção - tanta convicção que o próprio autor as considera verdade. Todas são sempre ditas durante as Expo - seja no Long Distance, no Ironman, no 70.3 ou no SESC - durante o período de maior agitação. Fica então o aviso: se você tentar conversar com um careca magricelo andando feito barata tonta em passo apressado, carregando em uma das mãos uma ferramenta e em outra uma peça indistinta, é provável que ele dispare uma das inverdades abaixo:
- "Um minuto, eu já volto" (aqui são duas mentiras em uma: nunca leva um minuto, e raramente ele volta para o mesmo lugar);
- "Eu já vejo isso prá você". (dez segundo depois de dizer isso ele não vai lembrar nem de você nem do que você pediu pra ele);
- "Acho que isso não tem conserto" (ele não entende nada de mecânica nem de gambiarra; quase sempre os mecânicos consertam ou remendam);
- "Isso custa uns 20 Reais" (ele não entende nada de preço, e sempre erra pra menos);
- "Claro que lembro de você" (ele não lembra nem do sobrenome dele, que dirá do seu nome);
- "Essas Expo me matam".
Essa última é uma meia verdade. Elas acabam comigo sim, mas depois me fazem renascer com um pouco mais de consideração pela fragilidade alheia - que tal um executivo de uma multi-nacional pedindo a um mecânico "cara, você tem que me ajudar!!!"; pelos meus limites (saber dizer "não" é uma arte, e aos poucos vou me graduando) e pelo eterno renovar que é a vida (novos novatos, prazer em conheçê-los)."
Fonte: Blog do Max
Sobre o quarto item mencionado pelo Max, eu mesmo fui "vítima" desta característica dele. E conto para vocês. Antes de viajar para Floripa, para o Ironman Brasil 2011, entrei em contato com o Max para fechar o serviço de montagem/desmontagem da bike. Max forneceu o preço, e eu aderi ao negócio. Chegando lá, procuro o stand da Kona Bikes e falo com Max, o qual indica um mecânico para me atender. Para me certificar, confirmo o valor, e vejo o espanto no rosto do mecânico. Este vira-se em direção ao Max e pergunta:
- Max, você fechou com ele por R$ 60,00? (* valores fictícios, pois não lembro ao certo os valores reais)
Max olhou, pensou, fez ar de que não fazia a menor ideia do que tinha falado comigo, e respondeu:
- Acho que sim! Fecha por esse valor mesmo!
O mecânico olhou para mim, e disse:
- Cara, o Max tá louco! Esse valor é de três anos atrás, no mínimo. Vou te cobrar R$ 90,00, tá? Mas o preço normal é R$ 120,00!
Acabei aceitando a argumentação dele, por ver que o coitado estava, na verdade, lutando para que os serviços não ficassem com preços tão irreais.
Por força deste episódio, o Max não ganhou minha antipatia. Muito ao invés. Ganhou um cliente. Pois ficou patente que ele realiza seu trabalho preocupado na qualidade do serviço e da informação, e não apenas na lucratividade.
Isto lembrou-me quando comprei minha primeira bike. Uma bike de estrada, e não uma de triathlon, assim como manda o figurino. À época, tinha um grande amigo morando na Itália, e que já estava envolvido com o ciclismo. Ele, como grande amigo que é, prontificou-se a comprar uma bike para mim, e trazê-la ao Brasil. Foi à loja, e foi informado pelo vendedor, um ciclista italiano antigo e de reconhecido nome na região, das medidas necessárias. Altura, cavalo, etc. Mandei-as, e sugeri o tamanho, a saber, 54.
Meu amigo entrou em contato depois, dizendo que o vendedor, ao ver as medidas, não concordou que a bike fosse 54. Disse que não venderia, pois, segundo as medidas, a bike correta seria uma de tamanho 56. Fiquei impressionado! E perguntei a mim mesmo se algum vendedor aqui do Brasil teria o mesmo comportamento. Até que, um dia, achei o Max.
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