Ironman Brasil 2011

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Blog do Max - Postagem para os Pais



Acabei de ler uma postagem, entitulada FILHO DE PEIXE NADA, no extraordinário Blog do Max - Kona Bikes. Trata-se de reflexões de como pais esportistas lidam com seus filhos em relação à prática de esportes. Para quem é pai, é leitura compulsória. Vejam:

"Creio que todo o praticante de esportes àvido - seja amador, profissional ou ocasional - nutre um desejo quase nunca reprimido que seus filhos "tomem gosto pela coisa", que vem a ser o mesmo esporte praticado ou adorado pelo pai. Sonhando acordado, o peladeiro de fim de semana olha seu pequeno chutando uma bexiga no primeiro aniversário e já imagina um futuro camisa 10 canarinho; o nadador Master que acabou de ser pai compra uma pequenina sunga antes mesmo de comprar a primeira fralda para o seu futuro Popov, e, como não poderia deixar de ser, todo o filho de um ciclista apaixonado acaba ganhando um autógrafo  do vencedor do Tour ou do Giro antes mesmo de saber quem é Ronaldo (dinho ou dão).

Um pouco disso tem a ver com laços afetivos entre pais e filhos. O jovem que tem em sua memória emocional registros positivos relacionados às figuras maternas e paternas envolvidas com esportes acaba talvez com uma propensão maior a buscar, para si, registros semelhantes. Essa é a vertente positiva da herança esportiva - "eu pratico o esporte que meu pai ou minha mãe praticava porque isso está associado, de alguma forma, a um registro de felicidade, bem estar, energia positiva". E essa vertente é positiva sobretudo porque nasce espontaneamente. Ninguém obriga ou força esse jovem a fazer o que seus pais faziam. Ele o faz por impulso próprio. Ele abre a porta que conduz ao esporte pelo lado de dentro, com suas próprias mãos.

O lado escuro dessa vertente, não menos real,  acontece quando a mesma porta que leva ao caminho do esporte  é forçada de fora para dentro, e o jovem ou a criança são retirados de seu mundo para praticar uma atividade cujo objetivo primário é preencher as frustrações de seus pais (ou as neuroses políticas de seus países). Todo o resto - a felicidade, o bem estar e a energia positiva - são acessórios opcionais de um pacote indesejado, levando ao caminho doloroso do esporte sem paixão.

Quem vive em meio a atletas sabe o quanto esses cenários são verdadeiros, e acaba descobrindo também que os exemplos relacionados às frustrações e neuroses não são poucos. Eu, pelo menos, já vi de perto mais casos do que gosto de lembrar, e talvez tenha sido por isso que tomei cuidado redobrado ao apresentar o mundo dos esportes para os meus pequenos (quando eles eram pequenos....).

Num raciocínio extremamente simplista, sempre acreditei que o exemplo falaria mais que mil palavras, e foi assim - fazendo e praticamente nunca falando - que levei para eles a minha mensagem. Enquanto eles cresciam, papai nadava, papai pedalava, e de vez em quando papai corria. Às vezes papai chegava cansado, às vezes chegava atrasado, e às vezes mamãe brigava com ele porque chegava cansado demais e atrasado demais.  Mas fora isso, papai parecia feliz fazendo o que fazia. Alias, parecia não. Papai era, e continua sendo, extremamente feliz praticando seu esporte. Portanto, papai acabou mostrando que ser feliz é possível na prática, e que ao menos um caminho viável, honesto e não muito complicado existe.

Por outro lado, talvez num excesso de zelo para não entrar no lado escuro da força, nunca fiz da prática esportiva uma obrigação para os pequenos. Embora todos os três tenham passado pelo circuito "escolinha de natação, escolinha de vôley", no dia em que aprenderam a nadar a obrigação da escolinha de natação acabou, e da escolinha de vôley não saiu nenhum pós-graduado. E embora eu já tenha me perguntado mais uma vez se não deveria ter insistido um pouco, acabo sempre voltando e me firmando à noção de que a linha que separa "incentivo" de "imposição" é tênue, e que mesmo que ao cruzá-la sejamos bem sucedidos (ainda bem que meu pai me obrigou a nadar, me disse uma vez um grande nadador), continuo achando que o componente emocional é o que vem em primeiro lugar. Praticar esportes tem a ver com bem estar emocional e físico, e o segundo não existe sem o primeiro.  E continuo achando também que a porta para a prática esportiva só leva a um bom caminho se for aberta por dentro. Ficar esmurrando do lado de fora, ou arrombar, é receita para desastre emocional do jovem.

Como fruto dessa crença e da opção que se seguiu, hoje nenhum dos meus três filhos pratica esporte de forma catedrática - embora cada um pratique alguma forma de exercício moderado. E apesar de que certamente sempre tenha ficado com um olho de olho naquela bendita porta na esperança de um deles um dia a abra, não sou frustrado nem triste pelo fato dela (ainda?) permanecer fechada. Antes assim do que ter em casa um campeão trazendo nas costas  troféus para minhas prateleiras imaginárias, ou tendo acorrentadas ao peito medalhas que eu nunca fui capaz de ganhar.

Mas um dia atrás do outro é realmente uma coisa curiosa. Ontem - ontem ainda - meu filho do meio disse que iria começar a nadar. "Estou com vontade de fazer algum esporte mais regular", foram as palavras dele, que atualmente é músico em tempo integral e goleiro titular em peladas de fim de semana. Nem tive tempo de respirar. "A que horas mesmo começa a aula da faculdade oito e meia então você pode fazer como eu fazia na sua idade vai nadar de madrugada que dá tempo e sobra eu vou com você fazer o teste conheço todo mundo lá você vai adorar tenho certeza vai desenvolver seu  corpo de forma harmônica o que estamos esperando vamos lá". Se não foi isso foi mais ou menos isso.

Imagine. E eu imaginei! Com essas mãos que parecem uma raquete de frescobol e pés que dispensam nadadeiras! Com essa altura toda! Em um ano vai baixar de um minuto nos 100 livre. Xuxa...Gustavo Borges...Cielo....Popov...Thorpe....Ian Quint!

Mal meu filho entreabriu a porta, eu já tinha derrubado ela com parede e tudo e estava prestes a arrancá-lo de seu mundo para o meu.

Temos realmente que nos controlar. Às vezes, pouco pode a razão diante de uma grande paixão"

Já citei a fonte. E agora aí vai o link para quem quser conhecer melhor aquele blog: http://maxkonabikes.blogspot.com/

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